Abanadores

Abanadores – Wicalu

Criados baseados na crença de que os pássaros ligam o mundo físico ao espiritual e que abanadores elevam nossas orações ao Grande Espírito, são considerados objetos sagrados, sempre presentes em orações, festividades e cerimônias de cura.

Existem diversos conceitos diferentes sobre como construir seu Abanador e cada etnia tem costumes e crenças que norteiam a criação dos mesmos.

Podemos dizer com certeza, que cada abanador é de fato uma obra de arte única e ricamente simbólica.

Independente de pequenas diferenças no feitio ou significado das peças, o artesão seleciona as penas a serem usadas com cuidado e reverência, pois cada uma delas representa o espírito do pássaro que as ofereceu.

Importante salientar que apenas os povos nativos americanos podem ter penas de pássaros protegidos pelo governo federal, como águias e falcões o que agrega um significado espiritual ainda maior aos abanadores e um grande sentimento de honra por poder confeccionar uma peça dessa importância.

Um dos pássaros mais importantes para confecção desse objeto sagrado é a Águia, altamente reverenciada e considerada sagrada. São honradas com muito cuidado e respeito. Elas representam a honestidade, a verdade, a majestade, a coragem, a força, a sabedoria, o poder e a liberdade.

Outro pássaro muito respeitado é o Falcão, considerado uma divindade sobrenatural, que reside com os espíritos do Sol, da Lua e das estrelas. Representa, portanto o mundo superior.

Atualmente, Abanadores, continuam sendo usados em cerimônias Xamânicas, em atendimentos de terapias alternativas ou mesmo individualmente por aqueles que reconhecem o valor, respeitam e se guiam pelas tradições dos povos nativos.
Evidentemente usam penas de outros tipos de aves, especialmente daquelas que são abatidas para consumo como patos, galinhas, gansos etc.
Isso não significa, a meu ver, que essas aves não mereçam, da mesma forma, nosso respeito e reverência.
Tão pouco que esses abanadores sejam inferiores em seu propósito.
O objetivo central na elaboração de um Abanador, deverá ser sua finalidade: direcionar a fumaça produzida pela queima de ervas sagradas, numa oferenda, num benzimento, numa oração, num processo de cura.

Nossos ancestrais usavam esses Abanadores para auxilia-los na cura do corpo físico e espiritual.
Com eles enviavam uma mensagem de oração específica ao Grande Espírito, Wakan Tanka, agitando o Abanador para dentro e para fora da fumaça produzida pela queima de ervas, para que suas orações fossem levadas para cima através dessa fumaça, pelo espírito das aves representadas pelas penas do Abanador.
Essa fumaça pode ser dirigida ao paciente enfermo em processos de cura e benzimento.

Várias ervas diferentes criam fumaça curativa e a Salvia, geralmente, é a primeira erva usada para encorajar os espíritos malignos a deixarem o paciente ou o local a ser tratado.
Em seguida, o Cedro é queimado, pois se acredita que ele refresca e purifica. Finaliza-se com a fumaça de uma erva adocicada para atrair espíritos benéficos.

Muito tempo e cuidado são gastos na fabricação de um Abanador, As penas devem ser selecionadas, lavadas cerimonialmente em soluções especiais de ervas secas, para depois serem confeccionadas juntas.

Aqueles que reconhecem o cuidado e a devoção sagrada inerentes à criação desses Abanadores, fazem uso dos mesmos para limpeza energética e cura do corpo e da alma.

Outro detalhe presente na elaboração de abanadores são as franjas.
Os nativos norte americanos usavam preferencialmente a pele do veado, pois dependiam dele para obter comida, abrigo e roupas.
Essas franjas representam as raízes de uma pessoa na terra, suas origens, seus ancestrais.

Muitos abanadores são decorados com contas, num trabalho maravilhoso de entrelaçamento, formando imagens significativas para representarem o amanhecer, o nascer do sol, o por do sol, as diferentes estações, aves, plantas e animais que compõe nosso maravilhoso planeta.
Essa técnica é bem característica nos adornos e instrumentos sagrados dos povos nativos norte americanos.

<p value="<amp-fit-text layout="fixed-height" min-font-size="6" max-font-size="72" height="80">Gostaria de finalizar esse artigo, replicando uma linda oração.<br>Gratidão pela visita – ( Wóphila)<br><em>Lourdes Azevedo</em><br><br><strong>Prece da Limpeza (pela queima de ervas)</strong>Gostaria de finalizar esse artigo, replicando uma linda oração.
Gratidão pela visita – ( Wóphila)
Lourdes Azevedo

Prece da Limpeza (pela queima de ervas)

“Que suas mãos sejam limpas,
para que elas possam criar coisas bonitas.

Que seus pés sejam limpos,
Para que eles possam levá-lo para onde você deve estar.

Que o seu coração seja purificado,
para que você possa ouvir suas mensagens claramente.

Que sua garganta seja limpa,
para que você possa falar acertadamente quando as palavras forem necessárias.

Que seus olhos estejam clareados,
para que você possa ver os sinais e maravilhas deste mundo.

Que esta pessoa e espaço sejam lavados e limpos
pela fumaça dessas plantas perfumadas.

E que essa mesma fumaça conduza nossas orações,
espiralando para o céu.”

(Mystic Mermaid)

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E 2020 está terminando

 

Tivemos um  ano difícil.
Alguns de nós perderam amigos ou entes queridos, outros perderam sua fonte de renda e outros ainda perderam seus projetos, seus empreendimentos.
Foi um ano diferente que nos assustou, nos tirou da rotina e nos obrigou a buscar novos hábitos, novos caminhos.

Muita coisa mudou.
Algumas pessoas voltaram a valorizar coisas que até então passavam despercebidas.
Outras, descobriram em si mesmas um dom e ajudaram aqueles que se sentiam desamparados.
Uma coisa é certa, nada ficou como costumava ser.

Ainda teremos muitos desafios pela frente. Muitas adaptações, mas precisamos continuar acreditando que dias melhores virão.

Que nesse novo ano que se avizinha, possamos cultivar aqueles valores que andavam esquecidos, valores como o amor, a empatia, a solidariedade, o otimismo.
Que as famílias voltem a ter a importância que perderam ao longo dos anos e que fizeram tanta falta na formação de caráter dos filhos e netos.
Que os idosos possam recobrar o merecido respeito, o merecido amor.
Que os jovens possam entender que é preciso construir para usufruir no futuro e que somente nos mais velhos encontrarão conselhos sábios.

Sim, esse ano foi difícil, mas quanto aprendemos com ele…

Que 2021 nos devolva o equilíbrio, o bom senso, a gratidão, a fraternidade, o amor. O resto certamente conseguiremos correr atrás.
Muita paz, muita harmonia, muita sabedoria para o novo ano que se avizinha.

 

Lourdes Azevedo
(Magia da Terra)

Verdade

Iktomi.JPG

                                                                   Iktomi (ilustração de Arthur Amiotte)
Verdade

Wowicake (O que é real, como o mundo é)

Perguntou-se uma vez a um índio idoso o que era a verdade e ele respondeu:
“Eu acho que não vivi o suficiente para saber o que é a verdade. Tudo o que sei é que sem ela, Iktomi seria a mais poderosa criatura da terra”.

Hoje para falarmos sobre a verdade, vamos recorrer a essa lendária criatura, Iktomi.
Todos os Lakota conhecem muito bem as peripécias de Iktomi e sua fama não é derivada de qualidades, ao contrário, Iktomi era famoso por ser extremamente enganador!
Preguiçoso por natureza, nunca se preocupou em garantir um lugar para morar, nunca quis aprender a caçar seu alimento e vivia de pregar peças em todos aqueles que cruzassem seu caminho para tirar algum tipo de vantagem.

Numa linda tarde de verão, Iktomi perambulava pelas planícies a procura de uma presa fácil. Seu estômago estava roncando de fome, mas ele não estava disposto a fazer nenhum grande esforço para conseguir alimento.
Havia muitos peixes no rio, mas isso significava que ele teria que agarrar alguns gafanhotos para servirem de iscas para os peixes e você sabe, gafanhotos são muito difíceis de pegar! Eles são muito rápidos! Por isso Iktomi decidiu que não comeria peixes naquele dia.
Sentou-se numa pequena colina para descansar um pouco quando, além do barulho de seu próprio estômago, ouviu o que pareciam risadas trazidas de longe pelo vento.
A última coisa que Iktomi queria ouvir naquele momento, eram risadas! A fome lhe havia provocado um terrível mau humor.
Mas ele acabou ficando curioso e resolveu verificar de onde vinha aquele som irritante.

Num lago próximo, Iktomi viu dezenas de patos nadando, dançando e grasnando alegremente. Para Iktomi aquela era uma visão hipnótica!!! Que refeição ele poderia conseguir!!!
Começou a pensar numa forma de capturar alguns daqueles patos suculentos sem grande esforço, claro.

Um plano mirabolante logo brotou em sua mente (ele era muito bom nisso). Recolheu alguns galhos e gravetos que encontrou caídos no chão, os amarrou bem como num fardo e com passos firmes começou a caminhar em direção ao lago.
Ele parecia estar muito ocupado, como numa missão importante e para disfarçar ainda mais, não dirigiu o olhar para os patos. Ao contrário, fingiu que eles não estavam lá.

Como imaginara, um dos patos o reconheceu e gritou para os demais:
“Olhem, é  Iktomi!” o que provocou um alarde! Todos começaram a partir em revoada, mas Iktomi fez de conta que aquilo não era com ele e continuou andando, arqueado com o fardo de galhos nas costas.

Aquilo era muito estranho! Aos poucos os patos começaram a voltar para a lagoa. Todos estavam espantados ao ver Iktomi aparentemente fazendo alguma coisa importante. Ficaram ainda mais intrigados quando viram que Iktomi estava passando por eles sem sequer lhes dirigir um olhar.

“Iktomi”, chamou um dos patos. Mas Iktomi continuou andando.
“Iktomi”! outro pato insistiu.

Iktomi então parou e olhou para o lago como se estivesse surpreso ao ver tantos patos juntos, nadando despreocupadamente.
“HAU” ele  disse. “Como estão vocês, amigos? Lindo dia esse, não é?”
“Estamos dançando e celebrando esse lindo dia”, respondeu o pato.
“Fico feliz por vocês”  Iktomi respondeu e se virou para continuar sua caminhada.
Os patos estavam muito intrigados com aquela atitude. Iktomi não estava agindo como Iktomi e eles precisavam saber o porque.
“Espere”, disseram eles. “O que está fazendo? Por que está carregando todos esses galhos?”
Iktomi fingiu estar com pressa e respondeu:
“Não são apenas galhos. São  canções! São canções muito sagradas!
Eu as estou levando para uma comemoração lá perto do rio.”
Pegou os galhos nas costas novamente e voltou a caminhar.
“Estão esperando por mim”, ele disse. “Tenho que chegar antes do por do sol.”
Os patos ficaram agitados com aquilo e disseram: “Espere, espere! Não vás embora ainda. Cante uma de suas canções para que possamos dançar.”
Iktomi hesitou, parecendo preocupado e respondeu: “Não. Eu não posso fazer isso. Tenho um longo caminho pela frente. Estão esperando por mim!  Além  disso, são canções sagradas e eu não acho que poderia cantar uma delas pra vocês. Eu nem os conheço!”
Os patos alvoroçados gritaram em uníssono: “Queremos ouvir uma canção! Apenas uma!” e rodearam Iktomi que só conseguia pensar em que maravilhosa refeição ele poderia ter, com aqueles patos gordinhos e suculentos.
“Está bem”, respondeu. “Vou cantar uma canção e depois seguirei meu caminho.”
Regozijando-se, os patos voltaram para a lagoa, comemorando em antecipação.
Iktomi então, apoiou todos os galhos no chão e cuidadosamente escolheu um deles. Era um galho forte e robusto que seria perfeito para aquilo que ele tinha em mente. Era a canção perfeita para aqueles patos.
“É  esse   aqui”, disse Iktomi e mais uma vez os patos grasnaram de alegria.
“Agora”, disse Iktomi, “desde que a canção é sagrada, existe uma coisa que vocês precisam fazer quando eu começar a cantar.”
“Diga-nos o que é. Diga-nos o que fazer” gritaram os patos.
“Quando eu começar  a cantar, vocês precisam fechar  bem os olhos. Essa canção é sagrada e muito poderosa. Não sei o que poderia acontecer se vocês abrissem os olhos durante ela. Eu vou fechar meus olhos também, porque sei quão poderosa essa canção é. É tão poderosa que me avisaram para nunca canta-la com os olhos abertos e que todos os que a ouvirem deverão estar com os olhos bem fechados também. Vocês entenderam?”
“Sim, sim, nós entendemos!”
Iktomi procurou um lugar confortável para sentar, limpou a garganta e disse: “Preciso avisa-los! Se vocês abrirem os olhos enquanto eu estiver cantando, seus olhos ficarão vermelhos para sempre. Portanto, não importa o que aconteça, não importa o que vocês ouçam, mantenham os olhos fechados!”
“Nós manteremos os olhos fechados” os patos responderam.
Então Iktomi  começou a cantar:
“Heya, hey, hey, hey, Heya há…”   Iktomi era um bom cantor.
Os patos ficaram encantados, fecharam os olhos e começaram a dançar, batendo as asas na água, fazendo muito barulho.

Então Iktomi cuidadosamente abriu um olho e viu que todos os patos estavam extasiados, dançando, batendo as asas e claro, com os olhos fechados.
Aos poucos, entrou na lagoa, se posicionou no meio dos patos e com um golpe certeiro, abateu o primeiro pato. Mas o barulho feito pelos demais era tão alto que ninguém percebeu o que acabara de acontecer.
Encorajado com o sucesso, Iktomi continuou cantando e abatendo mais alguns patos. Sete deles já boiavam mortos na lagoa quando um dos patos, desconfiado, abriu os olhos e viu Iktomi no meio deles com o grande galho na mão, pronto para continuar  golpeando os demais.
“Olhem!”, o pato gritou. “Fujam, fujam ou Iktomi vai matar a todos nós!
Os demais patos abriram os olhos e chocados com o que viram, bateram as asas em disparada.
Para muitos deles já era tarde demais…
A canção de Iktomi se transformou numa risada estridente enquanto ele recolhia o seu jantar.
Os patos remanescentes estava longe agora, mas seus olhos se tornaram vermelhos desde então.
Iktomi comeu até não poder mais…

Se um dia Iktomi lhe disser que tem lindas canções para você, não feche os olhos! Desconfie!
O grande problema é que não sabemos que forma Iktomi poderá assumir para tentar nos enganar….

 

 

 

 

Sacrifício – Icicupi

nativeamericanthunder

Sacrifício
Icicupi (dar de si mesmo, oferecer-se)

Hoje vou falar sobre um assunto com o qual todos nós, de uma forma ou de outra, estamos familiarizados.
Durante nossa vida aqui na mãe Terra, nos deparamos com diversas situações que nos obrigam a fazer concessões, sacrifícios, a abrirmos mão de alguma coisa em prol de alguém, em prol de uma causa, uma circunstância.
Talvez trabalhemos num lugar que não nos deixa felizes, mas que garante o sustento de nossa família. Ou talvez precisemos deixar de realizar um desejo, como uma viagem de férias, em função de alguém que precisa dos nossos cuidados.
Pais em geral, deixam de lado suas vontades, para atender aos desejos ou necessidades de seus filhos.
Infinitas são as formas de sacrifício…
Você que está lendo esse texto agora, deve estar lembrando de algum sacrifício que precisou fazer ou ainda, que está fazendo, em função de uma pessoa, de uma situação, de uma contingência.
Existem duas formas de encararmos situações como essas.
Uma delas é revoltar-se, reclamar e maldizer o problema, o que só deixará o fardo ainda mais pesado, o desafio ainda maior.
Outra maneira é enfrentar o mesmo problema com serenidade, otimismo e positividade, o que transformará o fardo em algo bem mais leve e fácil de carregar.

A história que vou contar hoje, ilustra muito bem as consequências de um posicionamento equivocado face à adversidade.
Talvez você não saiba, mas para o povo Lakota, antigamente, não era absurdo acontecer de um homem ter duas esposas.
Não era uma situação comum, mas quando ocorria, o fato era aceito e respeitado pela comunidade.
Ter mais de uma esposa geralmente era consequência de uma situação específica. Por exemplo, um homem casado poderia tomar como esposa, a viúva de um grande amigo que se encontrava desamparada, com filhos para criar. Ou quando sua própria esposa expressava desejo que seu marido tomasse, além dela, uma de suas irmãs. Em situações como essas, era esperado que o homem assumisse a responsabilidade pelo sustento e cuidados de mais de uma companheira. Muitas vezes esse arranjo dava muito certo, mas muitas vezes acontecia exatamente o contrário…
Hà muito, muito tempo atrás, antes da chegada dos cavalos às planícies, num acampamento a leste das montanhas Black Hills, vivia uma mulher chamada Sina Luta ou Red Shawl (Xale Vermelho).
Ela havia se casado com um bom homem, bom provedor e de excelente reputação entre seu povo.
Apesar de estarem casados a bastante tempo, ainda não haviam conseguido ter um filho. Apenas depois de alguns anos Red Shawl conseguiu engravidar e deu à luz, um lindo menino.
A felicidade do casal era visível a todos.
Mas para surpresa e consternação de Red Shawl, seu marido lhe disse que traria uma segunda esposa para sua tenda.
Num acampamento próximo ao deles, um casal muito idoso criava uma de suas netas, desde que seus pais morreram numa nevasca.
O casal estava muito velho e queriam que a neta, Necklace, se casasse com um bom homem, antes de terminarem sua jornada aqui na terra.
Pediram a White Wing, marido de Red Shawl, que a tomasse em casamento e ele concordou.
Red Shawl, porém, nunca poderia imaginar que um dia precisaria compartilhar seu marido com outra mulher. Ela sabia que continuaria a ter uma posição privilegiada como primeira esposa, mas isso não conseguia conter seu ciúmes.
Quando White Wing partiu para buscar Necklace, Red Shawl juntou alguns poucos pertences, seu arco e flechas, alguns suprimentos, colocou seu filho em seu berço* e partiu da aldeia durante a noite, sem ser notada por ninguém.
Sua intenção era viajar para o leste até chegar a aldeia em que vivia uma de suas primas para ficar lá com ela. Red Shawl não estava disposta a dividir seu marido com outra mulher.
Muitos dias de caminhada aguardavam por Red Shawl. Mas ela era uma mulher forte, manuseava o arco e flechas com excelência, sabia caçar e certamente se sairia muito bem em sua jornada.
Mas Red Shawl não estava preparada para o que a esperava…
Depois de muita caminhada ela decidiu montar um pequeno acampamento para que ela e seu filho pudessem descansar por alguns dias.
Tudo estava indo muito bem, até que uma grande tempestade se formou, escurecendo o céu.
Tempestades de verão são consideradas pelos nativos, como a mais poderosa das criaturas que vivem nas planícies e os ventos são considerados a segunda.
Mais fortes do que o urso, mais perigosos do que o leopardo.
Red Shawl nunca havia enfrentado uma tempestade como aquela e agora estava sozinha, com seu filho para proteger.
Os ventos fortes levaram seu acampamento, seus pertences e toda sua provisão. Precisou de muita força e determinação para proteger seu filho. Pela primeira vez ela soube o que era estar sozinha…
A tempestade a açoitou e chacoalhou e a fez entender que a vida é uma jornada cheia de acontecimentos inesperados, como a chegada de uma segunda esposa para seu marido.
Red Shawl olhou para seu filho e percebeu que sua atitude o havia colocado naquela situação de perigo.
As águas da chuva começaram a subir rapidamente.
Desesperada Red Shawl procurava um abrigo, sem sucesso, até que avistou um enorme algodoeiro e amarrou o berço de seu filho na forquilha mais alta e mais forte que pôde alcançar.
Aos prantos ela gritou “Pai, leve-me se quiser, mas poupe meu filho!”
A correnteza a derrubou e a arrastou para longe.
Quando recobrou a consciência, seu corpo estava todo dolorido e gelado e não conseguia descobrir onde havia ido parar. Tentou ficar em pé e percebeu que havia torcido o tornozelo.
Na escuridão da noite ela viu estrelas no céu. A tempestade havia passado.
Mas Red Shawl só conseguia pensar em seu filho. O que teria acontecido a ele? Tentando manter a calma lembrou-se do algodoeiro. Talvez a tempestade não tivesse levado seu filho.
Ignorando a dor, ela se levantou determinada a encontrar aquela árvore e começou a caminhar a esmo.
Os pássaros começaram a acordar e ela notou um brilho pálido no horizonte. Estava amanhecendo e isso a ajudaria a encontrar seu filho.
Por volta do meio-dia ela chegou ao vale que havia sido inundado e reconheceu o enorme algodoeiro no qual deixara seu filho preso.
Mas ele não estava lá…
Desesperada ela começou a vasculhar a área em meio a gravetos e lama na esperança de encontrar seu filho entre os destroços deixados pela tempestade.
Já estava escurecendo e o desalento tomava conta de seu corpo.
Chorando, gritando e orando Red Shawl disse: “Vós, que viveis nas nuvens, tende piedade do meu filho. Ele é tão pequeno e indefeso. Leve seu espírito até o criador! E se tiver piedade, leve-me com ele!”
Mais uma vez ela caiu e não conseguia se mexer. Ela podia ver o rosto de seu bebê em sua mente e conseguia ouvir sua voz.
Tateando pelo chão, tocou em alguma coisa diferente. Nesse instante um grande relâmpago rasgou o céu e ela pode ver com o clarão, o berço de seu filho e o ouviu chorar. Ela agarrou o berço e o menino estava lá, como que por um milagre!
“Gratidão!” ela exclamou. “Obrigada a você que vive nas nuvens.”
Ela alimentou seu filho e os dois pegaram no sono agarrados um ao outro.
Na manhã seguinte, começaram sua jornada de volta pra casa.
No caminho, seu marido White Wing a encontrou. A família estava unida novamente.
White Wing conta para Red Shawl que havia decidido levar Necklace de volta para a casa de seus avós e disse: “Existem bons homens com quem ela poderá se casar.”
“Não!”, respondeu Red Shawl, “Isso traria vergonha para ela. Eu a receberei em nossa tenda, porque eu sempre me sentirei honrada por ser sua primeira esposa”.
E Red Shawl contou a seu marido sobre a tempestade, a inundação e como seu filho lhe foi devolvido pelo trovão.
Red Shawl nunca questionou como o trovão devolvera seu filho, mas esse mistério sempre lhe trouxe muita alegria e ela encarou o ocorrido como um presente que precisava ser retribuído.
Necklace foi muito bem recebida em sua tenda e com o tempo tornaram-se como irmãs.
O filho de Red Shawl cresceu alto e forte, muito devotado à sua mãe.
Quando completou 15 anos, seu pai White Wing, lhe concedeu o nome que sua mãe havia lhe dado e pelo resto de sua vida ficou conhecido como Wakinyan Aglipi, ‘Devolvido pelo trovão’.
Red shawl viveu muitos anos e foi tida como uma boa e  sábia mulher. Toda vez que trovões eram ouvidos e raios rasgavam o céu, ela saia de sua tenda e cantava uma canção de louvor para honrar aqueles que viviam nas nuvens.

Até mesmo uma atitude tola, pode levar alguém à sabedoria.

*Cradleboard/Berço: Forma tradicional usada pelos povos nativos para carregar seus bebês. Vide fotos ilustrativas a seguir.

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Compaixão

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Compaixão
Waunsilapi
(Se importar, simpatizar)

A história de hoje que ilustra mais uma das virtudes buscadas pelo povo Lakota, trata de um atributo que seria maravilhoso se as pessoas pudessem desenvolver.
A compaixão, a empatia, certamente propiciaria uma vida melhor para todos nós. Se importar com os problemas, dificuldades e sentimentos alheios, denota um coração amoroso, um espírito elevado.

Como já mencionamos em histórias anteriores, o povo Lakota vivia nas planícies americanas, região de grandes lagos, florestas e vida abundante.
O maior inimigo desse povo naquele tempo eram as mudanças climáticas, as chuvas torrenciais, o inverno rigoroso, o calor excessivo.
Foi no mês da Lua em que as frutas amadurecem, Maio, que o verão chegou com muita, muita chuva. Os lagos e rios começaram a transbordar e a chuva não parava de cair.
A região foi inundada fazendo com que o povo fosse obrigado a desmontar o acampamento e procurar regiões mais altas para escapar do volume absurdo de água.
Mas a chuva continuava a cair e a região já estava quase toda submersa.
O alimento se tornara escasso porque os caçadores não podiam mais caçar.
Muitos pertences foram perdidos na correnteza e em função da chuva, também não era possível encontrar madeira seca para fazer fogueiras e se aquecer.
As pessoas começaram a ficar fracas e doentes.
Os primeiros a morrer foram os mais velhos porque já estavam fracos demais para lutar contra o frio e a fome.
Em pouco tempo muitos ficaram muito doentes, com tosse e problemas respiratórios. Não havia como conseguir plantas medicinais para ajuda-los e aos poucos, todos foram morrendo.
E então vieram os ventos, bravos e vingativos, destruindo tudo o que havia sobrado. Em poucos dias, todos morreram com exceção de uma jovem.
Ela e sua família haviam tentado escalar uma colina, mas o vento havia derrubado todos os outros.
O mesmo vento levou embora as nuvens e pela primeira vez em quase um mês, o sol banhou a terra com seu calor e seu poder de cura.
A grande inundação havia terminado, mas deixara a morte por todo o lugar.
Do topo da colina a jovem mulher podia ver a destruição causada pela água e pelo vento.
Para ela não importava mais que o sol brilhasse e que os animais aos poucos retornassem à região. Ela estava sozinha. Completamente sozinha.
Ela não deixou a colina.
Dia após dia, noite após noite, ela permanecia no mesmo lugar, com o coração partido e cada vez mais fraca.

Numa determinada manhã, ao acordar, ela se deparou com uma enorme águia de penas escuras, quase pretas, olhando para ela com olhos preocupados.
A jovem teve medo porque uma ave daquela envergadura facilmente a dilaceraria e devoraria, mas não era essa a intenção expressa nos olhos daquela majestosa águia.
A águia olhava para ela com curiosidade, até que falou:
“Estou vendo que você está sozinha”.
Ela começou a chorar e disse “Sim, a inundação levou minha família, levou todo meu podo, os duas-pernas. Agora estou sozinha”.
“Você está muito triste. Eu ouvi você chorar”, a águia disse.
“Não tenho família, não tenho amigos, só tenho tristeza.” ela respondeu.
“Então serei seu amigo”, disse a águia. “Diga-me o que posso fazer por você?”
“Você não pode fazer nada. Estou sozinha, vou morrer sozinha”.
“Não é verdade”, ele replicou. “Olhe ao seu redor! Seus parentes, os quatro-pernas, os com asas como eu, os rastejantes: eles estão aqui. Estamos todos aqui”
“Mas meu povo se foi. Sou a única sobrevivente. Não existe mais ninguém como eu, por isso estou esperando morrer para me juntar ao meu povo.”
“Se você morrer, não haverá mais ninguém como você no mundo. Não haverá mais nada além do vazio onde seu povo um dia existiu. Isso não pode acontecer. Você precisa viver”.
Ele estendeu suas asas e saiu voando.
“Onde você está indo? “Vai me abandonar?” ela perguntou.
“Só vou buscar comida pra você. Vou voltar”, ele disse.

E ele voltou trazendo um peixe.
“Preciso fazer uma fogueira para cozinhar o peixe”, ela disse, “Não posso come-lo assim, cru.”
“O que você precisa para o fogo?” ele perguntou.
“Preciso de madeira seca.” ela disse.
A águia podia voar alto e para longe, então saiu para buscar lenha.
Quando voltou a jovem fez uma fogueira e assou o peixe. Cada pedacinho que ingeria parecia lhe trazer força.
Enquanto ela comia, a águia permaneceu sentada, assistindo.
“Vocês duas-pernas, conseguem fazer coisas poderosas! Vocês podem fazer fogo! Mas claro, nós, os com asas e os quatro-pernas não precisamos dessas coisas” ele comentou.
“Sim, o fogo cozinha nossa comida e nos mantêm aquecidos. Não existe nada melhor do que o calor do fogo para espantar a escuridão. Um bom fogo é como um bom amigo.”
A águia trouxe mais lenha para que ela pudesse ter fogo pela noite adentro e permanecer aquecida.
Na manhã seguinte, quando ela acordou ele havia sumido.
Ela estava acostumando com sua presença e se sentia grata por toda a dedicação que seu amigo estava tendo com ela.
E ele voltou e dessa vez lhe trouxe um coelho para ela comer.
“Existe um lindo vale na direção em que o sol se põe. Seria um lugar perfeito para construir uma tenda. Existe água bem perto e fica protegido dos ventos frios do inverno. Talvez você pudesse gostar de ir pra lá”, ele disse.
“Não”, ela respondeu, “Estou aqui e permanecerei aqui. Posso fazer minha tenda aqui mesmo se eu quiser.”
A águia podia perceber que a tristeza que ela sentia era muito grande. Ele sabia também que ela seria infeliz pra sempre, porque era a única de sua espécie na terra. Ele já havia sobrevoado muitos lagos, florestas e montanhas e não havia encontrado nenhum duas-pernas. Ela ficaria velha e morreria sozinha.
Ele continuou lhe trazendo comida e lenha, sempre sobrevoando a colina e afastando de lá qualquer perigo. Ele até espantou um urso uma vez.
Ela foi ficando mais forte a cada dia e até começou a se preocupar com sua aparência. Conseguiu fazer um pente para arrumar os cabelos.
Antes da inundação ela era uma das mais cobiçadas jovens da região. Muitos pretendentes a cortejavam.

A terra estava se recompondo e a beleza da natureza tomava conta de todo o lugar. Ela sempre admirava a beleza da região. Mas, o que poderia fazer sozinha?
Como toda jovem ela havia sonhado em encontrar um bom e forte guerreiro, constituir uma família, criar seus filhos e envelhecer na companhia de seu marido. Agora, ela estava sozinha. O que poderia fazer?
Um dia, esperando por seu amigo ela subiu ao topo da colina e ficou maravilhada ao observar a natureza ao seu redor. No céu, um pequeno ponto foi se tornando cada vez maior e ela reconheceu a beleza e imponência de seu amigo chegando para encontra-la. Ele era uma águia muito poderosa. Mas seu maior poder era o de afastar sua solidão.
E ela disse: “Sem você eu não sou nada. Se ao menos eu fosse uma águia, poderia voar na sua companhia e não seria a única da minha espécie.”
“Venha”, a águia respondeu, “vamos voar. Agarre-se às minhas pernas.” E levantou voo.
Ela viu a terra como nunca havia visto antes. Conforme as árvores, lagos e colinas ficavam cada vez menores, a Terra em si parecia cada vez maior e a jovem mulher estava maravilhada com essa visão.
Quando voltaram a jovem agradeceu o maravilhoso passeio e a águia reafirmou “Sou seu amigo e sempre serei”.
A amizade dos dois cresceu e ficou cada vez mais forte, mas ainda era possível ver a tristeza nos olhos dela.

Um dia, a águia voou o mais alto que podia.
“Meu Pai” ele clamou, “Você é o Todo Poderoso, por que não olha pelo bem estar dela?”
E uma voz respondeu: “Eu tenho feito isso. Eu lhe enviei até ela”
“Mas eu só posso lhe buscar comida, não posso oferecer o que ela realmente precisa. Ela precisa de alguém da sua espécie” a águia disse.
“Existe uma saída” a voz respondeu.
“Diga-me, meu Pai. Eu a ajudarei em tudo o que for possível.”
“Você é uma boa criatura, assim como ela. Tem um bom coração e merece um bom lugar no Grande Círculo da Vida.” disse a voz. “Poucos têm o seu poder. Seria muito difícil perder seu lugar, mas é o que teria que acontecer caso você decida ajuda-la, porque você precisaria se tornar um duas-pernas.”
“Não estou entendendo, meu Pai”, a águia disse.
“Para ajuda-la, você precisa se transformar em um duas-pernas. Se você o fizer, nunca mais poderá voar. Nunca mais poderá ver a Terra das alturas novamente. A escolha é sua. Você pode se tornar um duas-pernas e como homem viver com ela até o final de seus dias. Ou você pode permanecer como está”.

A águia estava muito quieta aquela noite. A jovem percebeu que seus olhos não estavam brilhantes como de costume. Ele estava com algum problema.
“Existe alguma coisa na sua mente lhe incomodando”? ela perguntou
“Sim”, ele respondeu. Preciso ir embora. Tenho muito no que pensar”.
“Você vai voltar?” ela perguntou “Não conseguiria viver sem sua companhia.”
“Eu voltarei”, ele prometeu. “Não importa o que aconteça, serei sempre seu amigo. Vou trazer comida antes de partir. Fique na colina, não saia daqui”, ele advertiu.
Alguns dias se passaram e ela já estava impaciente, a solidão já a estava ameaçando como um inimigo à noite.
A águia voou o mais alto que pode e admirou a Terra como nunca antes. Era uma visão que ele não queria esquecer jamais.
“Pai”, ele chamou, “Aqui estou”.
“Filho” respondeu a voz. “Eu sei o que vai em seu coração. Você tem estado aflito por diversos dias. Mas parece que já fez uma escolha”.
“Sim” disse a águia, “Eu sei o que devo fazer”.
“Existem muitos da minha espécie. Ela é a única e não pode ser a última de sua espécie. A Terra e tudo o que existe nela sentiriam sua falta. Não vejo outro caminho.”
“Que assim seja”. disse a voz. “Eu lhe digo. Os duas pernas terão um lugar especial em seus corações para a sua espécie. Eles o terão na mais alta estima”.

O verão estava acabando. A brisa fria já estava começando a soprar. A jovem estava juntando lenha para se aquecer durante o inverno. Volta e meia ela olhava para o céu, procurando seu amigo.
“Você está esperando alguém?” disse uma voz às suas costas. Era uma voz familiar. Uma voz que ela conhecia muito bem. A jovem virou-se com um grande sorriso, mas ela não viu ninguém.
“Estou aqui” disse a voz familiar.
A jovem quase desmaiou quando viu afigura de um homem alto, jovem e bonito, sair de trás das pedras.
“Como isso é possível?” ela exclamou. “Achei que todos haviam morrido na enchente, menos eu!”
“Isso é verdade”, respondeu o jovem rapaz.
“Então de onde você veio?”
“Eu vim do céu” ele respondeu.
Aquela era a voz da águia! Deixando de lado seu receio e sua confusão mental, ela se aproximou. Havia algo familiar naqueles olhos.
“Lembra-se do dia em que voamos juntos?” ele perguntou. “Eu a levei bem alto, longe da Terra.”
“Não pode ser”, ela gritou, “É você!”
“Eu prometi que voltaria e voltei. Você não está feliz por me ver?
A jovem correu e o abraçou, sentindo o que achou que nunca poderia sentir.

Antes do inverno, construíram uma tenda para si e com o tempo se tornaram mãe e pai de muitas crianças e uma nova raça de duas-pernas estava povoando a região.
Sempre observavam o céu para ver as grandes águias voarem. Estavam admirando seus parentes.
Ensinaram seus filhos que ensinaram seus filhos, que ensinaram seus filhos.
Até hoje as penas de uma águia são sagradas para o povo Lakota e toda vez que um deles avista uma águia no céu, ele oferece uma prece em respeito e agradecimento por sua compaixão.

 

Wakan Tanka, wopila tanka.

Amor

Cottonwood5

Amor
Cantognake (entrar e permanecer no coração de alguém)

Você já viu um algodoeiro?
São árvores lindas, altas, fortes e vivem por muito tempo!
Algodoeiros podiam ser encontrados ao longo dos rios e dos lagos no território Lakota.
A brisa do verão costumava brincar com suas folhas e produz uma música suave e alegre que todas as criaturas gostavam de ouvir. Um murmúrio capaz de acalmar uma mente agitada, amolecer um coração empedernido, ou até curar um coração machucado.
Hoje nossa história será sobre dois algodoeiros que começaram suas vidas como outra coisa.

Há muitos, muitos anos atrás, dois jovens se conheceram numa festividade promovida por suas tribos.
Assim que se encontraram, não puderam mais tirar os olhos um do outro.
Seus nomes eram White Lance, um forte e alto guerreiro que havia contado suas primeiras vitórias na cerimônia Waktoglaka (da qual já falamos no post sobre Humildade) e ela, Red Willow Woman, que acabara de passar por sua primeira cerimônia de mulheres (passagem para a puberdade), bonita, com cabelos e olhos bem negros.
Participaram juntos de todas as danças lado a lado, passo a passo durante toda a festividade. Suas vozes pareciam uma só enquanto cantavam. Quando não estavam dançando, ficavam conversando por horas a fio.
No final das festividades, White Lance prometeu a Red Willow Woman que voltaria trazendo muitos cavalos para oferecer à sua família e pedir sua mão em casamento.
O verão passou e veio o outono. White Lance já havia capturado 12 cavalos e se dirigiu a aldeia de sua amada.
Porém, ao chegar, foi recebido por Red Willow Woman aos prantos que lhe contou que seu pai a havia prometido em casamento a um forte e corajoso guerreiro chamado He Crow. Ele vinha de uma família muito respeitável e certamente seria um excelente provedor.
White Lance nunca sentira nada igual em toda sua vida. A dor em seu coração lhe tirou o fôlego e ele não conseguia pensar claramente. Seu espírito parecia estar  encolhendo dentro dele.
White Lance enviou os cavalos de volta à sua aldeia e perambulou, sem rumo, por dias a fio. Quando voltou ao seu acampamento, fechou-se na tenda de sua família e ficou sem comer por muitos dias.
Na primavera chegou a notícia que Red Willow Woman e He Crow haviam se casado.
Red Willow Woman se tornou uma boa esposa, mas sua mente e seu coração pareciam estar sempre em um outro lugar.

White Lance também se casou com Good Medicine, a viúva de um grande amigo, morto durante uma caçada.
White Lance se tornou um líder e hábil guerreiro, mas todos notavam que ele procurava estar sozinho a maior parte do tempo, olhando fixo para lugar nenhum.
Era somente por ocasião das festividades quando suas aldeias se reuniam que os dois podiam se ver e conversar um pouco. Respeitosamente perguntavam sobre a vida um do outro e nada mais, mas era visível o brilho em seus olhos por ocasião desses encontros.
Mas o preço alto da honra, não estava sendo pago apenas por White Lance e Red Willow Woman. He Crow e Good Medicine também estavam pagando caro, pois não havia felicidade em nenhuma das duas uniões.
Foi numa dessas festividades que He Crow chamou Good Medicine num canto para conversar. Um plano foi elaborado.
No outono seguinte, Good Medicine pediu a White Lance que a levasse para visitar seus parentes. Seriam dias de caminhada.
No outro acampamento He Crow fez a mesma coisa; pediu que Red Willow Woman o acompanhasse numa visita à seus familiares.
Os dois casais viajaram sozinhos porque seus filhos já estavam crescidos e podiam ficar na aldeia.
White Lance e Good Medicine resolveram acampar no meio do caminho para descansar por uns dias e nesse meio tempo, chegaram He Crow e Red Willow Woman. Era uma situação muito estranha, mas todos pareciam felizes por se encontrar.

Na manhã seguinte He Crow teve uma atitude inesperada. Quando estava sentado sob a luz da fogueira, tirou um graveto dela e o atirou no chão dizendo: “Aquele graveto é você. Eu a afasto de mim agora. Você sabe que em nossos costumes, o marido pode escolher separar-se de sua esposa. Tenho minhas razões para fazer isso. Agora você está separada de mim e livre para ir aonde quiser.”
Antes que Red Willow Woman pudesse dizer alguma coisa, Good Medicine trouxe para fora de sua tenda, todos os pertences de White Lance e os colocou no chão dizendo:
“Eu lhe entrego suas coisas. Não existe mais lugar para você na minha tenda. Você sabe que em nossos costumes, uma mulher tem o direito de se separar de seu marido. Eu tenho meus motivos. Agora você está livre para ir aonde quiser.”
Passado o primeiro impacto, Red Willow Woman e White Lance entenderam o que estava acontecendo.
“Você é o homem no coração dela”, disse He Crow. “Você deveria ter sido o homem em sua vida também e agora o será.”
“E você é a mulher no coração dele” disse Good Medicine. “Tome o seu devido lugar com ele, como deveria ter sido há muito tempo atrás.”
He Crow acompanhou Good Medicine de volta a sua aldeira.
Naquela noite, White Lance e Red Willow Woman ficaram juntos como marido e mulher, vinte e cinco anos depois de terem se visto pela primeira vez.

Os dois ficaram acampados naquele vale próximo ao rio por vários dias. Passeavam pelas margens do rio admirando o mundo ao seu redor como se tudo fosse novo, diferente.
Mas o inverno estava se aproximando e White Lance precisava caçar para que os dois tivessem provisões suficientes para atravessar a estação.
Numa tarde, voltando da caçada, White Lance encontrou sua tenda vazia. Red Willow Woman não estava em nenhum lugar que sua visão conseguisse alcançar.
Saiu a procura da companheira, chamando seu nome e procurando pegadas no terreno. A neve já estava começando a cair e White Lance sabia que teria pouco tempo para encontra-la, antes que a neve cobrisse qualquer vestígio deixado por ela.
De repente ele ouve um terrível rugido e uma enorme sombra apareceu na sua frente. Um grande urso estava ao lado de um corpo caído no chão envolto por uma poça de sangue. Era Red Willow Woman.
Com um grito desesperado, White Lance correu em direção ao urso e atirou sua lança no peito do enorme animal. Mas o urso era muito forte e contra-atacou cravando suas garras afiadas no corpo de White Lance. Mesmo assim ele ainda conseguiu atirar mais uma lança que, dessa vez, feriu o urso mortalmente.
Com suas últimas forças, White Lance rastejou até Red Willow Woman e a pegou em seus braços. Ela ainda estava viva e conseguiu abraça-lo de volta.
Juntos, caminharam para a eternidade como deveria ter sido desde o início: como marido e mulher.

Dois verões se passaram até que um grupo de caçadores encontrassem seus ossos entrelaçados às margens do rio. Um pouco mais a frente, o esqueleto do urso com a ponta de uma lança no peito.
Os caçadores perceberam também dois algodoeiros crescendo lado a lado, entrelaçados, como se tivessem a mesma raiz.
As famílias sepultaram os ossos do casal ali, juntos, como foram encontrados.
Com o passar dos anos, os pequenos arbustos se tornaram árvores altas e fortes com seus galhos entrelaçados como nunca se vira antes. Muita gente foi até lá para sentar sob a sombra das árvores e sentir a brisa suave do vento chacoalhando suas folhas e produzindo lindas canções de amor eterno.

Honra

 

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Honra
Wayuonihan
(ter integridade, ser honesto, ter caráter)

Dando sequência à nossa jornada pelas virtudes buscadas pelo povo Lakota, hoje escreverei sobre uma muito importante, a honra!
A honra é um princípio que leva alguém a ter uma conduta digna e que lhe permite gozar de bom conceito junto à sociedade em que vive.
Envolve integridade, honestidade e força de caráter.
Para o povo Lakota, a cor relacionada à honra é o vermelho.
Muitas vezes a honra exige coragem e é exatamente sobre isso que versa a história que contarei a seguir.

Ha muito, muito tempo atrás, quatro caçadores empreenderam uma jornada às grandes montanhas chamadas de Black Hills (Paha Sapa), que se estendem do oeste de Dakota do Sul, até o estado de Wyoming.
Essas montanhas são muito importantes para os povos nativos da região, porque eles acreditam que o primeiro indivíduo de sua raça, surgiu de uma caverna dessas montanhas, atualmente chamada de Wind Cave.
Nessa região a caça é abundante!
Quando os quatro guerreiros alcançaram as Black Hills, resolveram montar um acampamento e descansar.
Durante a noite um deles levantou para alimentar a fogueira e teve uma visão assustadora. Uma enorme serpente havia deitado ao redor do acampamento.
A princípio o guerreiro achou que estivesse sonhando, mas ao constatar que a gigantesca serpente era real, acordou os demais companheiros para que, em total silêncio, também pudessem conferir o que estava acontecendo.
Assustado, o guerreiro mais jovem pergunta:
“O que devemos fazer? Poderíamos mata-la, se todos nós atirássemos flechas ao mesmo tempo.”
O mais velho, porém, argumentou que, caso eles não conseguissem mata-la com as flechas, ela certamente os devoraria em seguida.
Nada em suas vidas os haviam preparado para enfrentar uma situação como essa.
A serpente era tão alta quanto um búfalo e certamente seriam precisos vinte búfalos enfileirados para corresponder ao seu comprimento.
Depois de muitas conjecturas, o guerreiro mais velho disse que só haveria uma maneira de sair da armadilha em que se encontravam. Eles teriam que pular a serpente onde a cabeça encontrava com a cauda, o único lugar um pouco mais baixo do que o resto do corpo da mesma.
Eles atirariam suas armas por sobre a serpente, para fora do círculo primeiro e depois, um a um arriscariam o salto.
O guerreiro mais jovem seria o primeiro a pular, mas ele estava tão apavorado que outro companheiro se ofereceu para ser o primeiro.
Tomando a maior distância possível, o primeiro conseguiu saltar em segurança e o segundo foi logo atrás.
Com isso o guerreiro mais jovem ganhou confiança e se preparou para pular. Quando ele estava bem perto, a serpente levantou a cabeça, fazendo com que ele batesse nela e caísse no chão desacordado.
O guerreiro mais velho rapidamente puxou o amigo para trás, esperando que a serpente devorasse os dois. Houve um silêncio interminável!!!
Quando o guerreiro mais jovem recobrou a consciência, a serpente simplesmente foi embora.
O jovem então conta que a serpente havia falado com ele em pensamento e que garantiu que não voltaria, caso eles fizessem o que ela lhes ordenara.
Eles deveriam viajar rumo ao norte, até alcançarem um rio e seguir por ele até um vale. Nesse vale eles encontrariam uma cabana com uma porta vermelha.
Nessa cabana vivia um homem com uma cicatriz abaixo dos olhos, sua esposa e uma criança. Esse homem os estaria esperando. Dois guerreiros deveriam ficar protegendo a cabana e os outros dois deveriam acompanha-lo até um lago distante que esse homem deveria atravessar.
Mesmo sem entender muita coisa e até duvidando que a serpente houvesse transmitido alguma mensagem, todos decidiram que deveriam fazer o que ela lhes havia ordenado e seguiram viagem rumo ao norte, com receio de que a serpente pudesse voltar e devorar a todos.
Depois de muita caminhada em silêncio, os quatro chegaram ao esperado vale e para surpresa de todos, lá estava a cabana com uma porta vermelha.
Ao se aproximarem, um homem de meia idade veio ao encontro deles e, de fato, ele tinha uma grande cicatriz no rosto, logo abaixo dos olhos. A serpente havia mesmo falado com o guerreiro mais jovem.
O homem e sua família os receberam em sua casa e lhes ofereceram comida.
Depois de comerem, o homem com a cicatriz disse que sabia que tinham uma mensagem para ele.
O guerreiro mais velho revelou o propósito de sua jornada e disse:
“Dois de nós ficarão aqui para proteger sua família e os outros dois deverão acompanha-lo. Serão muitos dias de viagem. Devemos chegar a um lago e você deverá atravessa-lo. Se conseguir chegar até a outra margem, poderá voltar para casa.”
“Sim”, disse o homem com a cicatriz no rosto. “Eu viajarei com vocês.”
Naquela noite, os quatro montaram um pequeno acampamento perto da cabana. Todos estavam muito confusos. Afinal, por que uma serpente falaria com eles? Por que o homem deveria atravessar o lago? Ainda, por que aquele homem vivia com sua família alí, isolado dos demais? O que teria acontecido com ele?
Chegado o momento da partida, ficou definido que o guerreiro mais velho e o mais jovem acompanhariam o homem até o lago, enquanto os outros dois ficariam e guardariam sua casa e família até seu retorno.
E nada mais foi dito a respeito do assunto.
A jovem esposa se despediu do companheiro com lágrimas e o acompanhou com os olhos até o perder de vista.
Foram quinze dias de caminhada, até alcançarem e atravessarem o grande Muddy River em direção ao lago. Novamente, nenhuma palavra foi dita acerca da missão.
Quando finalmente chegaram ao lago, notaram um silêncio estranho. Não haviam animais ou aves no lugar. Até o ar parecia parado.
Então o homem da cicatriz disse:
“Amanhã cedo entrarei no lago, como vocês me orientaram. Acho que sei o que me espera. Se eu não alcançar a outra margem, por favor, levem minhas coisas para minha esposa e a acompanhem de volta à sua família. Perguntem também, a ela, o que quiserem saber sobre mim. Ela lhes dirá tudo.
Uma coisa era certa nessa história toda. O homem com a cicatriz no rosto era muito corajoso!
Na manhã seguinte, os dois guerreiros assistiram o homem com a cicatriz fazer suas orações, despir-se e entrar no lago cantando sua canção de morte.
O lago era raso até quase a metade de sua extensão. Quando o homem chegou ao meio, ondulações começaram a se formar nas águas paradas do lago e num picar de olhos, um vulto negro surgiu na superfície e o arrastou para baixo. Em seguida, as águas voltaram a ficar calmas.
Os dois guerreiros correram até a margem do lago, mas sabiam que não poderiam fazer nada. Permaneceram lá a manhã inteira na esperança de que o homem voltasse.
Mas nada aconteceu.
Vinte dias de viagem de volta à cabana com a porta vermelha.
Os outros dois guerreiros esperavam em vigilia.
Assim que os avistaram, contaram que a jovem esposa chorou desde que eles partiram e que, em sinal de luto, havia cortado os cabelos.
Ela sabia que seu marido não regressaria.
Mais alguns dias se passaram até que a jovem finalmente falou com eles.
“Devo voltar para meu povo.”
“Sim, nós a levaremos até eles. Seu marido nos pediu que assim o fizéssemos,” disse o mais velho.
Durante o caminho de volta ao seu povoado, a jovem viúva nada falou.
Ao chegarem a jovem foi calorosamente recebida por sua família e os guerreiros foram convidados a permanecer o tempo que quisessem. Resolveram descansar por alguns dias.
Na tarde em que se preparavam para partir, a jovem viúva foi conversar com eles.
Ela disse:
“Preciso lhes falar sobre meu marido.
Quando ele era jovem, tinha um bom amigo que se tornou um poderoso feiticeiro. Mas ele escolheu o lado escuro da magia e se tornou aliado de espíritos maus.
Meu marido se afastou dele e se tornou um grande líder do nosso povo.
O feiticeiro ficou enciumado e usou seus poderes contra meu marido. Com sua magia, ele matou sua primeira esposa, mas mesmo assim meu marido não aceitou se juntar a ele. O feiticeiro foi ridicularizado por toda a aldeia. Com o passar do tempo, ele enlouqueceu e morreu.
Nessa ocasião um espírito mau veio até meu marido e disse que ele seria punido pela morte do feiticeiro.
Ele deveria fazer uma escolha: Ele poderia aceitar a vergonha do banimento ou assistir toda a aldeia ficar enlouquecida como o feiticeiro havia ficado.
Meu marido escolheu o banimento.
O espírito então lhe disse que quatro homens viriam ao seu encontro para leva-lo, mas que ele não saberia quando isso aconteceria. O espírito queria que meu marido vivesse cada dia como se fosse seu último.”
“E como você se tornou a esposa dele?”, perguntou o mais jovem.
“Meu pai me contou a história desse corajoso e honrado homem e disse que uma bravura e uma honra como essa, não poderiam morrer com ele. Deveriam ser passadas adiante. E eu me tornei sua esposa e lhe dei um descendente.”
Os quatro guerreiros voltaram pra casa naquele dia.
Quando contaram sua história, muitos não acreditaram. Mas os quatro se tornaram os homens mais honrados de seu povo.
Se existem mesmo serpentes gigantes?
Bom, não se pode dizer que sim ou que não. Mas certamente existem muitas coisas poderosas, incríveis e misteriosas por aí.

Wophila JMMIII

Perseverança

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Perseverança
Wowacintanka (Persistir, esforçar-se apesar das dificuldades)

Em meus posts anteriores sobre as virtudes buscadas pelos povos Lakota, falei sobre a Humildade, o Respeito e a Gratidão.
Hoje falarei um pouco sobre a Perseverança.
Vale a pena mencionar que na cultura Lakota, as crianças eram orientadas desde bem cedo e, naturalmente, para que houvesse um maior entendimento das lições a serem aprendidas, histórias eram contadas, o que permitia não apenas o entendimento, mas a incorporação do ensinamento à vida de cada novo indivíduo.
Eram as mães e as avós as responsáveis por orientar as crianças até a idade de 5 anos. Portanto esse trabalho de formação de caráter, começava bem cedo.
Nossa história de hoje fala de perseverança.
Sabemos que para alcançar qualquer objetivo na vida, precisamos lutar, correr atrás, nos dedicar de fato, persistir.
Aprender um novo idioma, um novo ofício, aprender a dirigir um carro, enfim, todo novo aprendizado requer esforço.
Talvez nesse exato momento você esteja se empenhando em alcançar um novo objetivo! Quanto trabalho, quanta dedicação será preciso?
Muitas vezes chegamos a pensar em desistir frente a tantos obstáculos…
Se você se encontra numa situação como essa, a história a seguir poderá lhe dar um novo ânimo, força e coragem.
Na região de Dakota do Sul, vivia um povo chamado Red Calf (Bezerro Vermelho).
Um casamento acabara de ser realizado entre “Cloud”, um grande guerreiro e “Plum”, uma linda jovem.
Eles se casaram no verão e naquele ano a tribo estava enfrentando as terríveis tempestades próprias dessa época, com ventos muito fortes, trovões assustadores e muita, muita água.
A aldeia se protegia como podia, mas era difícil manter tudo e todos em segurança.
Numa determinada noite em meio a um terrível temporal, um barulho mais assustador do que o dos ventos ou dos trovões, foi ouvido!
Gritos de horror, o uivo e latidos nervosos dos cachorros, homens correndo e dando gritos de alerta em função de uma nova e grande ameaça.
Algo mais poderoso do que a tempestade, estava destroçando toda a aldeia e atacando as pessoas.
Era Iya, o gigante, com a força de centena de homens e a altura de diversas cabanas.
Iya estava faminto e estava destruindo tudo em busca de comida. Ele estava comendo as mulheres da aldeia!
Com sua enorme mão, Iya derrubou a morada de Cloud e Plum e num piscar de olhos, agarrou Plum e a jogou goela abaixo.
Cloud em desespero, atirou diversas flechas no gigante que infelizmente não produziram efeito algum. Nada conseguia deter a criatura.
Depois de intermináveis minutos de horror, os sobreviventes assistiram Iya ir embora de barriga cheia, deixando uma trilha de pegadas inacreditáveis de tão grandes.
O conselho da tribo imediatamente se reuniu e decidiu que a aldeia precisava ser movida para outro lugar porque agora que o gigante sabia onde eles estavam, certamente voltaria para fazer mais uma refeição. As providências para a mudança começaram na mesma hora.
Mas Cloud estava devastado, inconformado! O gigante havia levado embora a mulher que ele escolhera para passar o resto de seus dias, para ter filhos, formar uma família. Ele precisava fazer alguma coisa!
Com a permissão do conselho, Cloud reuniu sete guerreiros para irem ao encalço da criatura.
A princípio nenhum deles sabia exatamente o que fazer porque o gigante parecia indestrutível.
Foi então que Cloud teve a ideia de atrai-lo para uma armadilha.
O plano apesar de parecer absurdo, era cavar um enorme buraco no qual o gigante pudesse cair e ficar preso.
Mas seria preciso cavar um buraco muito, muito grande!
Um dos guerreiros precisaria se oferecer como isca ao gigante, correr muito e fazer com que o mesmo o seguisse até a armadilha. Uma tarefa nada fácil…
Ficou estabelecido que 6 guerreiros cavariam o buraco enquanto Cloud e seu amigo Yellow Hawk procurariam o gigante e o atrairiam até o local combinado. E claro, o buraco já deveria ter sido cavado e camuflado.
Foram dias de trabalho exaustivo! Por mais que cavassem o buraco nunca parecia ser grande o suficiente.
Cloud e Yellow Hawk encontraram o gigante adormecido e sua perigosa e desafiadora missão estava começando.
A princípio os dois guerreiros fizeram fogueiras para chamar a atenção de Iya. A fumaça atraía o gigante até a primeira fogueira e quando ele a alcançava os dois guerreiros, tomando uma boa distância, acendiam outra. E foi assim que Cloud e Yellow Hawk deram tempo para que os outros seis companheiros conseguissem cavar o enorme buraco.
Tudo estava correndo conforme o planejado, até que Iya avistou Cloud e Yellow Hawk. Uma terrível caçado havia começado.
Cloud orientou Yellow Hawk a voltar e ajudar os outros seis com o buraco, enquanto ele tentaria despistar o gigante até que tudo estivesse pronto.
A situação era desesperadora, pois cada passo do gigante, equivaliam a 10 passos de Cloud. Cloud precisaria correr muito para não se pego.
Quando suas energias estavam chegando ao fim, Cloud reconheceu o sinal de fumaça dos amigos avisando que a tarefa estava concluída. Um buraco de proporções inacreditáveis estava cavado e coberto de arbustos secos.
Quase sem aguentar correr mais, muito cansado para ter qualquer tipo de medo, Cloud lembra da imagem da esposa em seu vestido especial no dia de seu casamento e imagina os filhos que poderia ter com ela.
Isso lhe trouxe um sopro de esperança e energia suficiente para continuar correndo.
Seus amigos assim que o avistaram, se esconderam para não desviar a atenção do gigante.
Cloud atravessa cuidadosamente os arbustos arrumados por seus companheiros e por um único centímetro não é pego pela criatura.
Ao pisar nos arbustos, Iya despenca para dentro do enorme buraco e fica completamente entalado.
Iya luta durante a noite inteira para escapar da armadilha, até que suas forças acabam e ele morre ali mesmo.
Quando todos percebem que o gigante havia morrido, Cloud pega sua faca e corre em direção de Iya, cortando seu estômago de ponta a ponta.
Ele grita por ajuda quando encontra o corpo de uma mulher mais morta do que viva, coberta de lama e outras substâncias horríveis.
Mas ela estava viva!!!!
Plum e todas as outras mulheres que haviam sido devoradas pelo gigante, estavam lá resistindo e conseguiram sobreviver ao ataque.
Cloud e Plum tiveram dois filhos, um menino e uma menina a quem contaram a história do terrível gigante e da perseverança necessária para salvar aquelas vidas.
Os dois envelheceram juntos e essa aventura de coragem e determinação, rendeu a Cloud uma posição de honra entre seu povo que o seguia por sua sabedoria e persistência.
Lá no meio do descampado existe uma colina coberta de grama e cactos e muita gente a visita. Para a maioria, ela não passa de uma colina comum, mas para alguns ela é a cova do gigante Iya.
De qualquer forma, essa colina é fruto do amor, da coragem e da perseverança.

 

Generosidade

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GENEROSIDADE
Canteyukee
(Dar, Dividir, Ter Coração)

O inverno sempre foi uma estação difícil para o povo Lakota que vivia nas planícies da América do Norte. Ventos fortes e muita neve dificultavam a vida desse povo que vivia exclusivamente da caça. Nesse período do ano, os animais costumavam migrar para outras regiões em busca de sobrevivência e da mesma forma, o povo nativo mudava sua aldeia de lugar. Mas nem sempre havia tempo suficiente para deslocar um acampamento inteiro.
Foi exatamente assim que certa vez, uma aldeia se viu com poucas provisões, encarando um inverno muito rigoroso. A fome e o frio já estava fazendo vítimas, especialmente entre os mais velhos.
Numa reunião, os anciãos de tribo decidiram que seria preciso enviar dois de seus melhores caçadores a procura de suprimentos, antes que fôsse tarde demais.
Naquela noite, Sees the Bear (Vê o Urso) e Left Hand (Mão Esquerda), prepararam suas armas e provisões para saírem na difícil jornada.
Rumariam para a região das florestas, um território que eles ainda não conheciam.
Sempre atentos a eventuais trilhas deixadas por algum animal, seguiram andando, dias e dias de viagem.
Já estavam sem provisões e o frio era tanto, que mal conseguiam acender um fogo para se aquecer à noite.
Numa determinada tardinha, eles ouvem um barulho e percebem um vulto passar por eles. Era uma corsa! Uma grande corsa preta e cinza, como eles nunca haviam visto antes.
Rapidamente pegaram seus arcos mas com os dedos congelados de tanto frio, custaram a preparar suas flechas. A corsa estava quase fora do alcance dos dois, quando finalmente conseguiram abate-la.
Naquela noite os dois caçadores conseguiram matar sua fome.
No dia seguinte, prepararam a caça para leva-la de volta a aldeia e alimentar seu povo que os esperava.
Vários dias de viagem novamente…
À noite, os caçadores se revezavam para tomar conta da caça, com receio de que algum animal a pudesse roubar.

Na segunda noite de vigília, Sees the Bear pensou que estava tendo um sonho, quando viu um coiote muito magro se aproximar do acampamento.
“Inverno rigoroso, esse”, disse o coiote. “Minha família está faminta. Se você for uma alma generosa, poderá me dar um pouquinho da carne que conseguiu. Precisamos só de um pedacinho para sobreviver.”
Sees the Bear sem acreditar no que estava acontecendo, chamou Left Hand rapidamente para que ele também visse. “Nunca vi um coiote tão perto assim do fogo.” respondeu assustado
“Vocês são grandes caçadores e sei que têm bom coração.” disse o coiote. “Sou velha, já vivi bastante, mas é por minha família que eu suplico sua bondadde”, ela acrescentou.
Left Hand imediatamente disse que não poderia ajudar. “Precisamos levar esse alimento pra casa. Nosso povo também está com fome.”
“Os espíritos foram bondosos conosco” disse Sees the Bear e prontamente cortou um pedaço de carne e a atirou ao coiote que agradeceu dizendo:
“À noite minha família cantará para vocês em gratidão.”
Left Hand ficou muito bravo e disse que aquilo tinha sido a coisa mais estúpida que ele havia visto na vida.

Mais dois dias se passaram quando Sees the Bear ouviu uma gralha lhe dizer: “Os lobos comeram todas as entranhas da corsa que vocês deixaram pra trás. Não sobrou praticamente nada para nós. Estamos com muita fome”.
Antes que Left Hand o pudesse impedir, Sees the Bear cortou algumas tiras de carne e as atirou para as gralhas.
“Nós o recompensaremos por sua bondade. De hoje em diante se vocês não nos virem por perto, será sinal de que tempos difíceis estão a caminho. Enquanto vocês puderem nos avistar, haverá abundância e viremos lhes anunciar.”
Mais uma vez Left Hand ficou muito bravo com o companheiro.

Mas alguns dias de viagem e Sees the Bear avistou um lobo com a pata muito machucada.
Left Hand já foi logo avisando que se ele estava alí para ganhar alguma carne, poderia ir embora porque ele não lhe daria nenhuma.
“Fico triste ao ouvir isso” disse o lobo. ” Como você pode ver, estou com a pata ferida e apesar de saber onde encontrar as corsas, não consigo persegui-las e alcança-las. Minha esposa deu a luz e precisa comer para alimentar os pequenos”.
E completou: “O inversno está muito severo e pensei que poderia contar com a sua bondade.”
Sees the Bear disse em seguida:”Temos o suficiente. Pode contar com nossa ajuda.” deixando Left Hand mais furioso!
“Eu agradeço” disse o lobo. “Por sua bondade você terá minhas habilidades de caçador.”
Left Hand não falou mais com Sees the Bear que o havia lembrado das lições de generosidade que ambos receberam quando crianças.

E foi uma raposa que se aproximou do acampamento dessa vez. Ela disse “Nunca vi um inverno tão rigoroso. A neve está tão alta que fica muito difícil andar porque tenho patas pequenas. O coelho pode correr na superfície da neve enquanto que eu afundo. Estava pensando se você seria generoso o suficiente para me dar um pouco da sua carne”.
Left Hand estava dormindo e Sees the Bear aproveitou para dar o que comer à raposa.
“Temos o suficiente para compartilhar” ele disse.
Agadecendo, a raposa falou: “Meu povo é muito bom em se camuflar. Por sua bondade, essa habilidade também será sua.”
Na manhã seguinte Left Hand percebeu que mais um pedaço da carne havia sumido e para ele isso já era demais!
“Estou voltando para a aldeia sozinho. Vou buscar ajuda para carregar o que sobrou da nossa carne”.
Sees the Bear foi deixado sozinho para trás e mesmo assim, com muita dificuldade, prosseguiu sua caminhada.

Na manhã seguinte ele se deparou com um falcão com uma asa machucada.
“O que lhe aconteceu?”, perguntou, e o falcão respondeu: “Precisei brigar com um gato do mato que me atacou para roubar o coelho que eu havia caçado. Agora não posso voar. Não como nada ha dias!”
Sees the Bear cortou mais um pedaço de carne e o entregou ao falcão.
“Sou-lhe muito grato. Da próxima vez que sair para caçar, siga nessa direção até encontrar um lago. A caça por lá é muito boa e mesmo quando a neve chegar, você poderá pescar o salmão.”
Naquela tarde Sees the Bear conseguiu chegar perto da aldeia, mas não podia mais carregar o resto da carne sozinho, então resolveu enterra-la na neve e seguir para a aldeia sem nenhum peso extra.
Os anciãos esperavam por ele.
“Left Hand nos contou o que aconteceu”, eles disseram. “Agora é a sua vez de nos contar.”
Sees the Bear disse toda a verdade ao que os anciãos responderam: “Alguma comida é melhor do que nenhuma.”
Sees the Bear percebeu o olhar de desapontamento das pessoas na aldeia. Com a cabeça baixa, dirigiu os demais até o local em que havia enterrado o resto da carne.
Left Hand foi o primeiro a puxar a corsa pela perna, mas estava muito pesada e precisou da ajuda de mais quatro homens.
Quando conseguiram tirar a corsa da neve, perceberam surpresos que ela estava inteirinha!
“Não é possível” ele gritou. “Não havia nem a metade quando eu o deixei pra voltar para a aldeia”
Enquanto todos olhavam para a carcaça intacta do animal, uma imagem fantasmagórica da grande corsa apareceu a todos e disse:
“Eu sou a corsa que vive na floresta. Existem muitos de nós. Nossa carne lhes dará forças.
Pedimos em retorno, porém, que vocês sempre demonstrem sua gratidão pelo presente da vida. Se assim o fizerem, estaremos sempre prontos a ajuda-los. Generosidade é uma excelente qualidade, porque todos estamos viajando juntos nessa terra.” E dizendo isso, desapareceu.
Sees the Bear foi homenageado por sua atitude e daquele dia em diante passou a ser chamado de Bings the Deer, (quem trás a corsa).
Sempre que caçava para seu povo, Brings the Deer parava para agradecer por aquela vida que lhe foi entregue.
Quando a primavera chegou, a aldeia mudou-se para a beira do lago que o falcão havia mencionado. Sim, haviam provisões em abundância.
Brings the Deer se tornou um hábil caçador e parecia ser dotado de poderes e abilidades que mais ninguém possuía.
Durante toda sua vida, sempre jogou pedaços de carne para as gralhas que cumpriram o que haviam prometido, lhe avisar se um inverno muito rigoroso estava a caminho.
Brings the Deer fazia um pequeno ritual que ensinou aos demais. Cada vez que uma corsa fosse abatida numa caçada, ele parava, ficava alguns minutos em silêncio e colocava um punhado de sálvia no local, como uma oferenda.
Muios caçadoes Lakota passaram a fazer a mesma coisa em gratidão pelo presente da vida recebido.
Comenta-se que Brings the Deer sempre sorria ao ouvir coiotes cantando suas canções.

Quantas coisa recebemos diariamente!
A vida, o alimento, o ar que respiramos, a água. Temos nossas famílias, nossos amigos, nossos animais de estimação, nossas casas.
Recebemos generosamente a chuva e o sol.
Temos as flores, as árvores, todos as criaturas de quatro pernas, as voadoras, as raastejantes, as nadadoras. Tanta beleza, tantas provisões!
Sabemos agradecer?
Ajudamos àqueles que precisam? Doamos nosso tempo, nossa atenção, nosso esforço, amor, recursos materiais para ajudar toda e qualquer forma de vida que esteja em necessidade?

Precisamos lembrar sempre que todos nós andamos pela mesma estrada aqui na mãe Terra. Podemos andar em beleza por essa estrada vermelha da vida, sabendo dividir, compartilhar, se importar com todas as outras formas de vida que Wakantanka, o Gramde Espírito, colocou aqui sobre a mãe Terra, certamente com um propósito.
Que possamos perceber as necessidades dos outros e, na medida do nosso possível, amenizar as dificuldades. Se todos fizermos um pouquinho, conseguiríamos mudar muita coisa.
Que possamos assim como Brings the Deer, colher os bons frutos de nossas boas ações, e Canteyukee: Ter Coração.

 

Sempre com gratidão a J.M.M.III

Respeito

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No artigo anterior falei um pouco sobre a humildade e como o grande guerreiro Crazy Horse foi um exemplo dessa virtude.
Dando continuidade aos artigos sobre as virtudes buscadas pelo povo Lakota, hoje vou falar um pouco sobre o ‘Respeito’.
Para ilustrar esse tema, vou contar uma das centenas de histórias que os mais velhos costumavam contar para seus filhos e netos, com o intuito de faze-los entender mais facilmente, a importância de se ouvir, entender e colocar em prática os ensinamentos que os ajudariam a viver com dignidade e harmonia.
Felizmente ainda existem descendentes desse povo que valorizam esses ensinamentos e que se dispõe a nos transmitir bondosamente.
Vou contar a história da “Mulher Cervo”.
Havia um jovem guerreiro que se tornara um exímio caçador. Sempre que saia para uma caçada, toda a aldeia sabia que ele demoraria alguns dias para voltar, mas certamente chegaria com provisões para todos.
Vamos chama-lo de ‘Koskalaka’ (que significa homem jovem), já que não sabemos seu nome.
Koskalaka vivia com sua avó para ajuda-la e fazer-lhe companhia, em vista de que a mesma era viúva.
Em gratidão, ela sempre lhe contava histórias fascinantes que Koskalaka adorava ouvir.
Entre elas havia essa sobre a Mulher Cervo.
A Mulher Cervo, segundo a história, era de uma beleza estonteante! Tão linda que qualquer um que dela se aproximasse, ficaria perdidamente apaixonado.
Ela vivia em uma tenda pequena mas aconchegante, e um fogo convidativo sempre brilhava em frente da mesma. Mas ninguém conseguia encontra-la por mais que a procurassem. Ela só era avistada quando um caçador, longe de casa, estivesse sozinho, cansado e com fome.
Ela o atraía para sua tenda, oferecendo-lhe alimento, calor, carinho e prazeres, até que o mesmo caísse no sono.
Quando o caçador acordava na manhã seguinte, descobria que a linda mulher havia desaparecido e havia levado com ela seu sossego, seu juízo.
Uma vítima dessa armadilha, como que num encantamento macabro, nunca mais teria paz e passaria o resto da vida procurando, em vão, reencontrar a Mulher Cervo.
A avó de Koskalaka o advertiu sobre o perigo de encontra-la na mata, aceitar seu convite e perder a cabeça para sempre.
“Alguns homens são feridos em batalhas ou enquanto estão caçando. Esses ferimentos podem ser curados, mas com o espírito é diferente. Se o seu espírito for ferido, ele talvez nunca mais possa ser curado”, dizia ela.
No outono seguinte, Koskalaka fez os preparativos para sua caçada. Precisava trazer provisões para a aldeia. Ele partiu para sua jornada com mais três outros guerreiros, mas como o verão anterior havia sido muito seco, os animais se distanciaram das regiões que costumavam habitar e os caçadores precisaram viajar muitos dias até conseguirem encontra-los.
Numa determinada tardinha, Koskalaka se afastou de seus companheiros seguindo a trilha deixada por um alce quando avistou uma tenda (tipi) iluminada por uma fogueira e percebeu que o aroma que saía da tenda era particularmente delicioso.
Curioso, mas com muita cautela, ele resolveu chegar mais perto e avistou uma linda mulher.
Ela percebeu sua presença e acenou para ele vindo em sua direção.
“Você deve estar muito cansado” ela disse. “Venha comigo. Eu tenho um bom fogo e um bom lugar para você descansar”.
Koskalaka nunca havia visto uma mulher tão bonita em toda sua vida. Sentiu-se extremamente tentado e por um momento, deu sinal de que a acompanharia. O desejo de segui-la era incontrolável!
Mas Koskalaka sabia exatamente quem ela era!
A Mulher Cervo estava ali, bem na sua frente!
Seus joelhos tremeram e um misto de desejo e medo pareciam se apoderar de seu coração.
Percebendo o receio do caçador, a linda mulher acrescentou, insinuante: “Você é forte e bonito. Eu estava esperando encontrar alguém exatamente como você!”
Nesse instante, quase cedendo aos encantos da misteriosa mulher, Koskalaka ouviu a voz de sua avó dizendo: “Poderá ser a mais difícil decisão da sua vida, mas você precisa fugir dela!”
Imediatamente Koskalaka juntou toda sua força de vontade e disse “Não. Eu não vou com você. Eu sei exatamente quem você é!”
O lindo rosto da Mulher Cervo se contorceu ao perceber que fora rejeitada e uma ventania inesperada, levantou as folhas do chão e sacudiu as árvores.
À frente de Koskalaka agora, havia um cervo furioso!
A tenda convidativa havia desaparecido.
O cervo partiu para o ataque, mas Koskalaka sacou seu arco e suas flechas revidando, o que fez com que o cervo fugisse, desaparecendo na mata.
O resto da caçada foi excelente e Koskalaka voltou para sua aldeia cheio de provisões. Com o tempo tornou-se um líder respeitado por sua sabedoria, calma e decisões acertadas.
Foi o respeito aos ensinamentos de sua avó que salvaram sua vida.
Talvez a Mulher Cervo não apareça aos viajantes solitários atualmente. Talvez ela tenha mudado sua tática. Os tempos são outros e as armadilhas também.
O respeito, porém, será sempre atual!
Não existe sociedade organizada sem que haja respeito.
Não me refiro aqui apenas ao respeito pelos mais velhos. Não existe questionamento sobre isso.
Mas é preciso ampliar gigantescamente essa noção de respeito. Precisamos começar respeitando a nós mesmos! Sermos íntegros, verdadeiros e conhecermos nossos limites.
Em seguida precisa haver o respeito por nossos semelhantes. Respeitar crenças, raças, costumes, enfim, todas as diferenças.
É preciso respeitar todas as formas de vida! Os animais, a natureza, o planeta!
Nunca é tarde demais para se demonstrar respeito.
Isso poderá garantir que você também seja respeitado/a.

Em breve virei recontar mais histórias como essa.

(com gratidão à Joseph M. Marshall III)